terça-feira, 24 de maio de 2016



Socorro, meus netos estudam numa escola moderna!

                                                                                 Ivone Boechat

Constantemente, incessantemente, ouvem-se agressões à Escola Pública tradicional como se ela fosse um aparelho com manual mofado para a fabricação de conservadores.  Sobrevivente feliz desse “tipo” de escola, sou testemunha ocular, porque estudei nela e quero relatar o que se passava ali.
O hino da Escola era lindo, foi composto por um pai de aluno. As datas cívicas não passavam em branco. A Escola virava uma festa!
Estudávamos, sim, numa cartilha de modelo único, considerada, hoje, como sucata antipedagógica, quadrada, boba, sem cores, barata, mesmo assim, nem todos tinham acesso a ela, houve casos em que o aluno conseguia uma toda despencada, mas a encapava e conseguia recuperá-la, porque aquela cartilha era preciosa para nós...A turma inteira aprendia a ler.
Na sala de aula, havia um “quadro-negro”, desbotado, dividido ao meio, porque eram duas turmas de séries diferentes na mesma sala. Nós aprendíamos a respeitar o espaço do outro! Ah! Não posso me esquecer... havia disciplina...Quase ninguém tinha transferidor e compasso, mas éramos capazes de reconhecer o compasso das músicas e sabíamos transferir carinho.  Havia aula de música, trabalhos manuais, e aprendíamos a fazer bainhas, a pregar botões e a costurar as roupas das bonecas. Aprendemos a gostar de artes! A ginástica era rítmica, ao som de música clássica! Aprendemos a gostar das artes! Discutíamos os autores.
O material escolar se resumia em dois ou três cadernos finos, lápis nem sempre coloridos. Poucos possuíam uma caneta a tinta...dava status...era o máximo! Na minha Escola havia um coral e cantávamos em latim, francês e inglês. Brincávamos no recreio com petecas, bolas, piões. O recreio era maior, brincávamos de roda. Fazíamos peças de teatro. Quem tinha um instrumento musical levava para se apresentar nas festas da Escola!
Boas maneiras, ética, elegância ao falar, treino ortográfico eram comuns. Nossa letra não era um garrancho, tínhamos caderno de caligrafia. O livro para estudo da língua portuguesa tinha uma antologia dos poetas brasileiros. Até hoje sei de cor Augusto dos Anjos (quase ninguém hoje sabe que ele existiu) Olavo Bilac, Machado de Assis, Casimiro de Abreu, Castro Alves e muitos outros.
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Como vai a Escola Pública moderna hoje ?

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